CONDIÇÕES PARA O SUCESSO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS REGIONAIS ANGOLANAS

0
Screenshot_20250630-094902
Partilhe

OPINIÃO

JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA/Pensador, Docente e Escritor


1 . Quando os portugueses, então colonizadores, chegaram a Angola, já havia reinos ou regiões com bases etnolinguísticas bem definidos. Implantada a colonização, os colonizadores começaram materializar o propósito de praticar genocídio cultural, com o fim de descaraterizar o seu povo, impondo ao angolanos hábitos europeus e o uso da língua portuguesa. Com base na sua estratégia, estabeleceram classes distintivas e discriminatórias dos angolanos, nomeadamente “cidadãos de segunda” e cidadãos assimilados”, que passavam a ter determinados direitos. As línguas regionais angolanas, eram consideradas “línguas de cão”.

1 . 1. A expressão “língua de cão” e a discriminação em função do uso das línguas regionais, dissuadia o uso delas. Assim, muitos homens e mulheres não se comunicavam com os seus descendentes nas suas línguas de origem por receio de que eles fossem discriminados e ultrajados. Por isso, muitos cidadãos angolanos não falam as línguas das suas correspondentes regiões natais.

1 . 2. Só num passado não tão distante a mentalidade dos angolanos começou a mudar. Assim, muitos angolanos, como à-vontade e orgulho começaram falar em línguas regionais e a usarem os seus nomes angolanos com origem nelas, facto que era impensável antes, porque as mentes individuais e a mentalidade colectiva o proibiam. Ter um nome em línguas regionais era vergonhoso. Por isso, muitos ocultavam esses “nomes de pecado”.

2 . O uso generalizado das línguas regionais angolanas é indispensável para a definição da identidade cultural dos angolanos, que muitas vezes é posta em causa por outros povos africanos que usam as línguas originais dos seus respectivos paises. Com efeito, dentro e fora das fronteiras de Angola, muitos angolanos não conseguem traduzir ou explicar o sentido de muitas palavras e expressões em línguas regionais. A situação é mais preocupante pelo factos de parte considerável dos angolanos não saber o significado dos seus respectivos nomes em língua regionais.

2 . 1 Entretanto, para que, a médio ou a longo prazo, haja se usemos generalizadamente as línguas regionais angolanas é necessária a definição de um projecto bem estruturado para o ensino-aprendizagem nas escolas (e fora delas), bem com planos complementares.,

3 . O ensino-aprendizagem das línguas regionais é transversal. A sua transversalidade pressupõe a intervenção da sociedade, mormente, das instituições, empresas, igrejas, famílias, escolas, comunicação social e os cidadãos de forma individualizada, particularmente as figuras mediáticas que dominam ou falam essas línguas, de modo a influenciarem positivamente os demais membros da sociedade. O sucesso nesse sentido requer a realização de diversos actos preparatórios e contínuos.

4 . Eis a estratégia para que o ensino aprendizagem e o uso generalizado das línguas regionais tenha sucesso:
a) Produção de gramáticas, dicionários e livros escolares;


b) Tradução de obras literárias mais importantes de diversos autores angolanos;


c) Tradução do hino nacional e dos hinos partidários, por parte dos partidos políticos;


d) Tradução de algumas frases ou expressões de anúncio em painéis publicitários públicos;


e) Divulgação de músicas em línguas regionais angolanas;


f) Produção de um CD com 100 melhores músicas em línguas regionais angolanas;
g) Mais divulgação radiofônica de músicas em línguas regionais;


h) Comercialização de aparelhos receptores eléctricos e à pilha, de modo a que a população possa ouvir as transformações dos programas das emissoras provinciais e municipais, em línguas regionais, tornando, assim, o uso massificado de rádios;


i) Incentivo aos compositores, cantores e produtores de músicas de músicas em línguas regionais;


j) Produção um livro com letras das músicas mais significativas cantadas em línguas regionais;


k) Produção de hinários como músicas religiosas em línguas regionais;


l) Exortar os DJ que disponibilizam músicas em “karaokê” para que de insiram músicas em línguas regionais nas suas “plays lists”;


m) Estabelecimento da onomástica angolana, de modo a que, por lei, cada cidadão tenha, ao menos, um nome originário da línguas regionais, com sentido dentro dos limites da moral e dos bons costumes;


n) Valorização dos professores em línguas nacionais;


o) Preferência de uso nomes em línguas regionais na adopção de nomes a serem usados em âmbito desportivo e artístico;


p) Denominação de peças de artesanato em línguas regionais, como “Samanjara”, em preferência ao nome “Pensador”;


q) Concursos periódicos permeáveis sobre questões relacionadas com as línguas regionais;


r) Enaltecimento público por parte da comunicação social; e privado, nos relacionamentos interpessoais;


s) Produção de camisolas brancas com impressão de várias palavras expressões com sentido axiológico como “zola”, assim como topónimos e nomes de animais.

4 . 1. Como podemos analisar e inferir, a estratégia supracitada é exequível e ambiciosa. Todos os investimentos terão retorno económico ou impacto positivo no direito à informação e no turismo, através da compra de “souvenires”, por parte dos turistas nacionais e estrangeiros.

5 . Quando à actual situação linguística em Angola, a maior parte dos cidadãos não fala línguas regionais e muitos não falam ou falam muito mal o português, a língua oficial de Angola, nos termos estabelecidos pela Constituição. As pessoas que não conhecem a gramática da língua portuguesa, que serve de base para o ensino-aprendizagem de quaisquer línguas, aprenderão com dificuldades as línguas regionais angolanas e estrangeiras, tais como inglês, francês e mandarim, espanhol e russo.


5 . 1. Em Angola, o Executivo e a sociedade, devem investir na produção de livros em diversas línguas, tais com dicionários monolíngues e bilíngues. Com base no uso dos dicionários os membros de cada família poderão brincas à menção da palavras em línguas regionais, que alguém perguntar ao seu interlocutor – “Como é que se diz alegria em umbundu?”. Em pouco tempo as pessoas utentes de dicionário terão um vocabulário rico.


5 . 2. É importante a tradução de obras literárias angolana nas diferentes línguas. As revistas deverão traduzir os seus conteúdos numa ou outra língua que acharem mais convergente.


5 . 3. O ensino-aprendizagem requer leitura regular. Mas para haver leitura é indispensável haver obras impressas e electrónicas disponíveis aos potenciais leitores. Quando virmos imensas pessoas a lerem nos transportes e vias públicos, Angola evoluíram do ponto de vista intelectual e do uso das diversas línguas. Quando virmos e ouvirmos um número considerável de pessoas a falarem em línguas regionais será a demonstração da recuperação da nossa identidade cultural, por via linguística.


Partilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »

Você não pode copiar conteúdo desta página