Impactos Políticos, Económicos, Sociais e Geopolíticos da Inauguração da Nova Refinaria de Cabinda

OPINIÃO
VERDIM PANDIEIRA JOSÉ
A inauguração da Refinaria de Cabinda, em Angola, representa uma de viragem estratégica para o sector energético nacional, com implicações profundas nos domínios político, económico, social e geopolítico. Este artigo propõe uma análise científica dos ganhos multidimensionais advindos do arranque operacional da refinaria, contextualizando-os no quadro do desenvolvimento sustentável e da soberania energética angolana. Com base em dados recentes, demonstra-se como este empreendimento, orçado em 473 milhões de dólares, contribuirá para reduzir a dependência de importações, gerar empregos e posicionar Angola como actor regional-chave no mercado de energéticos.
INTRODUÇÃO
A dependência histórica de Angola em relação à importação de derivados de petróleo tem imposto constrangimentos à balança comercial, à segurança energética e à autonomia estratégica do país. A operacionalização da Refinaria de Cabinda, com capacidade inicial de 30.000 barris/dia e potencial de expansão para 60.000 barris/dia , constitui uma resposta estruturante a estes desafios.
Este estudo visa discutir, à luz de dados sectoriais atualizados, os impactos esperados do empreendimento, inaugurado oficialmente em 1º de setembro de 2025, pela sua Excelência Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, após enfrentar atrasos devido à complexidade do projecto, disrupturas pandêmicas e desafios nas cadeias globais de suprimentos.
GANHOS ECONÓMICOS
A operacionalização da Refinaria de Cabinda terá impacto direto e mensurável na balança comercial angolana, sobretudo pela significativa redução das importações de combustíveis refinados. Atualmente, Angola importa cerca de 80% dos combustíveis consumidos no país, o que representa um dispêndio anual estimado entre 1,7 e 2,0 mil milhões de dólares americanos (dados de 2022-2023).Na
primeira fase, a produção de 30.000 barris/dia suprirá aproximadamente 10% da demanda interna de combustíveis , reduzindo as importações e gerando uma poupança cambial estimada em 1,1 mil milhões de dólares anuais. Adicionalmente, a produção de nafta e fuel óleo pesado para exportação criará receitas adicionais.O
investimento total de 473 milhões de dólares foi financiado por um consórcio internacional, incluindo a Africa Finance Corporation (AFC) e o African Export-Import Bank (Afreximbank), demonstrando confiança de parceiros globais na economia angolana.
Esse efeito de substituição de importações irá gerar uma poupança cambial expressiva, fortalecendo as reservas internacionais do país e reduzindo a exposição a flutuações do mercado internacional de combustíveis.Além
disso, a produção local de derivados de petróleo permitirá o aumento das Receitas Internas Líquidas (RIL) provenientes da tributação sobre a produção, comercialização e distribuição de combustíveis. Projecções preliminares indicam que, apenas no primeiro ano de operação, o incremento nas RIL poderá situar-se entre 250 e 350 milhões de dólares, valor que tende a crescer com a expansão da capacidade produtiva e a consolidação do mercado interno.
IMPACTO ECONÓMICO DA REFINARIA DE CABINDA:
Capacidade de produção 30.000 barris/dia primeira fase e 60.000 barris/dia na segunda fase;
Redução de importações – 10% da demanda nacional primeira fase e. 20% da demanda nacional segunda fase;
Empregos directos 3.300 postos directos
Empregos indirectos 5.000 postos indirectos
Investimento – 473 milhões de USD, podendo chegar com a segunda fase, em 600 milhões de USD (est.);
Poupança cambial estimada em 1,1 mil milhões de dólares anuais;
Incremento nas RIL(Reservas Internacionais Liquidas) estimado entre 250 e 350 milhões de dólares.
GANHOS FISCAIS E INDUSTRIAIS
O aumento da produção local de combustíveis refinados impactará positivamente as receitas fiscais, ao ampliar a base tributária e reduzir a evasão decorrente de importações.
A maior arrecadação poderá ser canalizada para sectores prioritários, como saúde e educação. Adicionalmente, a refinaria foi desenhada com tecnologias de ponta, incluindo uma unidade de “zero flaring” (queima rotineira de gás natural), reforçando o compromisso com a sustentabilidade e melhores práticas internacionais . O estímulo ao sector industrial e logístico posiciona Cabinda como hub energética e industrial, com potencial de estender para outras regiões do país.
GANHOS SOCIAIS
A geração de empregos e a dinamização econômica local têm o potencial de mitigar desigualdades regionais. Durante a construção, foram criados 3.300 empregos diretos , e estão em curso programas de capacitação, como o Projecto Kuma, que prevê formar mais de 5.000 pessoas em 12 meses . A transferência de tecnologia associada ao projecto contribui para o fortalecimento do capital humano e para a sustentabilidade do desenvolvimento regional. Adicionalmente, as comunidades locais foram apoiadas com projectos de educação, saúde e programas comunitários .
GANHOS POLÍTICOS E GEOPOLÍTICOS
A inauguração da Refinaria de Cabinda representa um avanço na consolidação da soberania energética angolana.
Geopoliticamente, a capacidade de exportação de derivados posiciona Angola como player relevante no mercado regional de energia, ampliando sua influência junto a países vizinhos da África Central e Ocidental . No plano político, o projetco reforça a legitimidade do governo junto à população, ao entregar benefícios tangíveis e promover coesão social, especialmente numa região historicamente sensível como Cabinda.A
governança partilhada entre a Sonangol e a Gemcorp sob supervisão do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, assegura alinhamento com a visão estratégica nacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Refinaria de Cabinda emerge como um pilar estruturante do desenvolvimento sustentável de Angola, com impactos transversais nos domínios económico, social, político e geopolítico. Contudo, é crucial monitorizar desafios pendentes, como a conclusão da segunda fase de expansão e a garantia de que os benefícios sociais sejam equitativamente distribuídos. Recomenda-se a realização de estudos longitudinais para avaliar os efeitos de médio e longo prazo sobre a economia e a sociedade angolana, bem como o acompanhamento de indicadores de desempenho operacional e ambiental.
Palavras-chave: Refinaria de Cabinda, soberania energética, desenvolvimento sustentável, Angola, impactos multidimensionais.
Referências
- Angola24Horas. (2025). Refinaria de Cabinda inicia operações e produzirá excedentes para exportação.
- Angola Oil & Gas. (2025). A Refinaria de Cabinda tem em vista o arranque em 2025 e junta-se à AOG 2025 como patrocinador de bronze.
- AngOP. (2025). Refinaria de Cabinda entra em operação no dia 1 de Setembro.
- Jornal de Cabinda. (2025). Angola produz menos petróleo e gás do que o previsto em 2025.
- Lider Magazine. (2025). Refinaria de Cabinda inicia operações em Setembro de 2025.
- Mercado & Finanças. (2025). Refinaria de Cabinda inicia operações no segundo semestre de 2025.
- Notícias ao Minuto. (2025). Angola inaugura Refinaria de Cabinda orçada em mais de 400 milhões.
- Facebook. (2025). PR VAI INAUGURAR A REFINARIA DE CABINDA.
- AngOP. (2025). Governadora realça impacto da refinaria de Cabinda.
- EDACO. (2025). Refinaria de Cabinda ainda sem sinais de vida.