João Baptista Kussumua apresenta técnicas do uso de telefones para a saúde ocular

OPINIÃO
Dr. JOÃO BAPTISTA KUSSUMUA
Após algum tempo dedicado à leitura e reflexão acerca do uso do telemóvel, considero útil apresentar-vos, de forma sumária, algumas considerações que julgo pertinentes pois, avós, pais, filhos e netos têm um ou dois celulares, dependendo da situação, necessidade e possibilidade de cada um.
Nada de errado! Porém, o aviso que se deixa aqui, é que o uso intensivo e permanente do telemóvel, com especial incidência na exposição prolongada ao seu ecrã, constitui um fenómeno crescente na sociedade contemporânea, que tem vindo a suscitar crescente preocupação por parte da comunidade científica, dadas as repercussões nefastas que acarreta para a saúde física, mental e social do indivíduo.
Do ponto de vista oftalmológico, a exposição contínua à luz azul emitida pelos ecrãs digitais pode provocar a chamada síndrome de visão computacional, manifestada por fadiga ocular, visão turva, olhos secos e dores de cabeça.
Estudos indicam que tal exposição contribui igualmente para distúrbios no ritmo circadiano, uma vez que a luz azul interfere com a produção de melatonina, hormona responsável pela regulação do sono, conduzindo, pois, a perturbações do sono, insónias e consequente diminuição do desempenho cognitivo e da capacidade de concentração.
Em termos posturais, a inclinação contínua da cabeça e do pescoço em direcção ao ecrã do telemóvel origina o denominado síndrome do pescoço de texto, resultando em dores cervicais, ombros tensos e, em casos mais graves, lesões músculo-esqueléticas permanentes.
A isto soma-se a imobilidade prolongada, frequentemente associada ao uso excessivo do telemóvel, que pode contribuir para problemas circulatórios, dores lombares e sedentarismo, este último sendo um factor de risco para doenças metabólicas como a obesidade e a diabetes tipo 2.
No domínio psicológico, a dependência dos dispositivos móveis tem vindo a ser associada a ansiedade digital, depressão, isolamento social e défices na interação interpessoal.
O uso compulsivo do telemóvel, especialmente nas redes sociais, induz uma constante busca por validação externa, através de “gostos” e comentários, o que pode afectar a auto-estima e aumentar o risco de transtornos de ansiedade.
Consta que estudos têm também demonstrado que a multi-tarefa digital, alternar incessantemente entre aplicações, mensagens e notificações, reduz a capacidade de foco e contribui para a diminuição da memória de curto prazo.Face a estas consequências, a comunidade científica recomenda algumas medidas preventivas e correctivas.
Entre elas, destaca-se a regra 20-20-20, que consiste em, a cada 20 minutos de uso, desviar o olhar do ecrã e fixá-lo num ponto a 20 pés (cerca de 6 metros) de distância, durante 20 segundos, a fim de reduzir a fadiga ocular. Diz, igualmente, ser aconselhável o uso de filtros de luz azul e a regulação do brilho do ecrã em função da luz ambiente.
Posturas ergonómicas devem ser promovidas, mantendo o ecrã ao nível dos olhos e evitando posições curvadas. Recomenda-se ainda a limitação consciente do tempo de uso, recorrendo, se necessário, a aplicações que monitorem o tempo de ecrã, bem como a promoção de momentos de desconexão digital, destinados à leitura, ao convívio social e à prática de actividade física regular.
Só com uma utilização moderada, consciente e equilibrada dos dispositivos móveis será possível mitigar os efeitos nocivos da sua utilização excessiva e preservar a saúde integral do indivíduo. Este é o compromisso de honra que deve prevalecer, consigo mesmo e com a família!
JBK/17.03.2025