Populismo com múltiplos alvos: João Lourenço e o MPLA na mira de Ventura e do CHEGA
OPINIÃO
ELIZANDRO DE ALFREDO/MSc em Ciência Política | Pesquisador em Mobilização dos Partidos Políticos nas Redes Sociais.
A estratégia de comunicação do CHEGA tem sido evidente: recuperar elementos do passado colonial português para mobilizar eleitores através de sentimentos de orgulho nacional. A agenda centrada na imigração, corrupção e combate à esquerda já não sustenta, por si só, a máquina populista; por isso, o partido procura novos focos de polémica que garantam atenção mediática e maior visibilidade..
Exemplos recentes mostram essa dinâmica. Quando o Presidente João Lourenço visitou Portugal, o discurso do líder do partido gerou forte engajamento e isso sinalizou mais um alvo para alargamento de eleitorado por via do engajamento. Já num segundo episódio, o líder confundiu um convite formal do Chanceler alemão Friedrich Merz para a festa da democracia “Bürgerfest” feito a Marcelo Rebelo de Sousa com um suposto “festival de hambúrgueres” e construiu uma narrativa de mau uso dos impostos dos portugueses em viagens desnecessárias. A informação revelou-se falsa, e a tentativa de capitalização política foi pouco eficaz.
Agora, em plena campanha presidencial, o partido voltou a encontrar novos elementos para alimentar a sua narrativa. Desta vez explorando declarações de Marcelo Rebelo de Sousa e de João Lourenço durante os 50 anos de independência de Angola. A forma como isso foi amplificado, e como as redes sociais reagiram, demonstra o quanto ainda falta para compreendermos plenamente os mecanismos do populismo contemporâneo.
A verdade é que o líder do CHEGA tolera, e até incentiva, associações simbólicas que lhe garantam palco, debate e viralidade, incluindo a associação recente a Salazar. O que não pode ser ignorado é que o partido continua a ser visto por muitos cidadãos como uma “grande esperança” num contexto de frustração com a imigração, com o desempenho do SNS, com a carga fiscal e com erros acumulados dos partidos tradicionais, PS e PSD.
O fenómeno do CHEGA não cresce no vazio; cresce onde há descontentamento, desinformação e espaço emocional para narrativas simples num mundo cada vez mais complexo e, nesse processo, figuras como João Lourenço e o MPLA acabam por ser instrumentalizadas como imecanismos de legitimidade para um populismo cada vez mais demagógico.
Por: Elizandro de Alfredo, MSc em Ciência Política | Pesquisador em Mobilização dos Partidos Políticos nas Redes Sociais