TENSÃO POLÍTICA NA RDC: Temendo laços com Kabila Dezenas de soldados falantes de suaíli lotam a prisão de Ndolo. Familiares pedem intervenção de João Lourenço Presidente da União Africana

A República Democrática do Congo atravessa um momento muito turbulento sobretudo depois de Joseph Kabila Kabange ter marcado presença na zona de conflito. A sua presença fez com que centenas de soldados falantes da língua suaíli venham pagar com a prisão por serem conotados com o antigo Presidente da RDC 2001-2019.
POR ISIDRO KANGANDJO
“Ninguém quis nascer no centro, Norte ou sul do país, por essa razão os nossos irmãos militar não devem pagar por isso. Pedimos a intervenção do Presidente da União Africana, Dr. João Lourenço de forma a resolver a situação juntamente com o Presidente da República Democrática do Congo”, desabafaram.
“Em Ndolo, praticamente só há soldados katangeses”, diz um advogado congolês, registrado na Ordem dos Advogados de Kinshasa-Gombe, que estava em Bruxelas no início de maio. O advogado se corrige, “digamos que falem suaíli, mesmo que os soldados catangueses sejam os mais numerosos.”
Ndolo, a prisão militar de Kinshasa, tem sido notícia regularmente nos últimos meses. Foi lá, em particular, que o antigo chefe dos serviços de inteligência militar (Demiap), General Christian Ndaywell, cidadão belga, contra quem foram apresentadas várias queixas no país por prisão e detenção arbitrárias, sequestro, tortura e homicídio (no caso do assassinato do porta-voz de Moïse Katumbi, Chérubin Okende), passou a encarcerar os seus detidos.
Entre estes, o caso emblemático de Jean-Jacques Wondo, um perito militar belga de origem congolesa, formado na Academia Real Militar (ERM) de Bruxelas, que regressou a Kinshasa em fevereiro de 2024 a pedido do antigo chefe dos serviços de inteligência civil (ANR), Coronel-médico Daniel Lusadisu, também formado pela ERM.
Jean-Jacques Wondo, que se reencontrou com sua família na Bélgica no início de fevereiro de 2025, tenta reconstruir sua vida após passar quase nove meses na prisão de Ndolo por, segundo seus acusadores, ser o “arquiteto intelectual” de uma operação militar realizada na noite de 18 para 19 de maio de 2024, em Kinshasa.
PERSEGUIÇÃO A ALTAS FIGURAS MILITAR NA RDC PREOCUPA HOMENS DA LEI
Um cenário surreal que rendeu a Jean-Jacques Wondo uma sentença de morte antes de ser perdoado por Félix Tshisekedi em fevereiro passado. Um perdão que Jean-Jacques Wondo se recusa a ouvir. Segundo seu advogado, o Ngwapitshi, contatado em Kinshasa, seu “cliente quer ser completamente exonerado. Aceitar o perdão significa admitir a culpa e arrastar consigo uma condenação e antecedentes criminais”.
“Jean-Jacques é inocente. Continuaremos a lutar e apelaremos ao Tribunal de Cassação para que sua completa inocência seja reconhecida.”
REGIONALISMO FAZ LOTAR CADEIA DE NDOLO
Com a libertação de Jean-Jacques Wondo, o general Christian Ndaywell “promovido” a chefe do Estado-Maior das Forças Terrestres das Forças Armadas da RDC (FARDC) e substituído pelo major-general Jean-Roger Makombo (também conhecido como Mobutu, frequentemente apresentado como um “verdadeiro vilão” por vários detidos que passaram pelas suas mãos), a prisão de Ndolo saiu dos holofotes da mídia por um tempo, mas continua sendo “um local de detenção onde se encontram muitos oficiais katangeses ou, mais genericamente, soldados que falam suaíli”, explica outro advogado congolês que lista uma longa lista de nomes de oficiais superiores que foram presos nos últimos meses.
O Brigadeiro-General Jean-Marie Shekasikila Mwendapeke, destacado em Kivu do Norte, e seu colega André Ehonda, comandante de uma força de reação rápida estabelecida em Kivu do Sul.

Em 22 de maio de 2025, o Brigadeiro-General Pierre Banywesize, ex-chefe de gabinete de Joseph Kabila, destacado em Dungu, na província de Haut-Uélé, por muitos meses, foi preso. Foi interrogado após solicitar permissão para deixar o país e receber tratamento médico no exterior e preso pelos Serviços de Inteligência.
PRESSÃO SOBRE KABILA
O momento desta última prisão, enquanto a questão do levantamento da imunidade parlamentar de Joseph Kabila era considerada no Senado e os rumores sobre a chegada do ex-presidente a Goma se tornavam cada vez mais claros, demonstra a motivação do governo para isolar o ex-chefe de Estado de seus potenciais “amigos” nas Forças Armadas. Essa política já dura quase três anos, notadamente com a prisão do General Philémon Yav, um elo fundamental no sistema de defesa no leste da República Democrática do Congo (RDC), preso em 19 de setembro de 2022, pouco mais de três meses após a captura do posto fronteiriço de Bunagana pelas tropas do M23.
“O exército ainda está dividido entre as facções pró-Tshisekedi e pró-Kabila, mas os apoiadores de Kabila foram afetados com várias prisões de homens fortes”, explica um oficial militar congolês ativo na inteligência.
“A chegada dos rebeldes AFC/M23, a captura das cidades de Goma e Bukavu, o domínio em torno de Uvira, combinados com as humilhações sofridas pelas tropas nas mãos de exércitos estrangeiros e das milícias Wazalendo, aumentaram ainda mais as tensões dentro do exército”, continua, antes de concluir: “Kabila goza de uma aura genuína entre muitos soldados, exceto os kasaianos (o grupo étnico do chefe de Estado), mas eles são uma grande minoria no exército.”
Isso poderia explicar a tentação do regime de Tshisekedi de assinar contratos com novas tropas estrangeiras, mesmo que isso significasse repetir a experiência mercenária, uma aventura que custou muito dinheiro e terminou em fiasco total e humilhação em Goma.

A fonte a que falava ao Factos Diários aponta que esta é uma realidade que se vive na República Democrática do Congo e que não chega ao Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, nas vestes de conselheiro do Presidente da RDC e da União Africana, pelo que, solicitam a intervenção do Estadista angolano na resolução do problema para que o país tenha uma reconciliação definitiva.